13 setembro 2012
12 setembro 2012
Aprender com a cabeça e com o coração
O maior desafio do mundo da
informação é, para quem estuda, como organizá-la, como encontrar critérios que
viabilizem a organização da informação e que permitam, com isto, torná-la disponível quando
necessária. Ora, tais critérios são, antes de tudo, formas de pensar e de
sentir, ou seja, formas de viver. Quem pretende enfrentar o mundo da informação
somente com a cabeça, com abstrações,
não irá muito longe. O excesso de informação mal compreendida, mal armazenada,
significa o mesmo que confusão. Não há muita distância entre confusão e falta
de informação. Não será possível chegar ao conhecimento crítico, inovador, com
uma relação meramente racional diante das informações. Este é o caminho da
congestão mental. O acúmulo de dados, seja em computadores, seja em cérebros
vivos, não representa conhecimento. A análise, a fragmentação dos dados, sem
uma correspondente síntese, não leva a nenhum conhecimento útil e pode, pelo
contrário, levar a muitos conhecimentos inúteis.
A alternativa é aprender com
a cabeça e com o coração. O grande desafio da sociedade da informação é estimular
uma saudável relação emocional tanto quanto racional com as informações. Como
eu reajo emocionalmente diante do conhecimento? Se imagino que um professor, um
programa de computação, um curso televisivo, ou seja, lá o que for vai colocar
na minha mente um determinado conhecimento, então estou pressupondo que minha
mente é algo como uma caixa vazia ou um papel em branco a ser preenchido.
Estou, neste caso, pressupondo que sou objeto e não sujeito do processo de
conhecer. Não tenho percepção de quanto a emoção está ocupando minha mente,
desviando as informações, relacionando-as em forma de rede com minha vida
cotidiana, com meus sonhos e desejos. Não estou percebendo que o discurso do
professor ou de alguma outra fonte de informação é apenas parte do processo de
aprendizado e que, se eu deixar que esta parte fique desacompanhada da emoção,
da minha emoção, do meu zelo e cuidado, tudo será um amontoado de palavras ou
dados inúteis, uma perda de tempo, um desperdício em todos os sentidos.
Aprender com a cabeça e com
o coração é colocar-se em movimento diante as informações. É fazer perguntas
diante das afirmações. É abandonar a obsessão pela certeza absoluta e
definitiva diante do conhecimento científico, filosófico, ou seja, lá de que
outro tipo for. É começar a olhar tanto para o texto, quanto para o contexto do
texto, quanto para o meu processo íntimo de autoquestionamento. Preciso saber observar
meus pensamentos e sentimentos, sem agarrar-me a eles, sem pretender descanso nas
convicções, pois estas podem ser becos sem-saída do processo de aprendizagem.
Aprender com a cabeça e com
o coração implica em conviver com as incertezas. E tomar o conhecimento sempre
dentro de contextos, sempre ligado a uma perspectiva ou teoria que o delimite,
que me permita ver as falhas, as limitações, as lacunas do próprio
conhecimento. Não posso pretender agarrar-me a algo que considero passível de
afundar a qualquer momento. E se o conhecimento é aprendido com a razão tanto
quanto com a emoção, há sempre este risco. A emoção representa, para o
conhecimento, seu contexto mais insondável, algo como o mar aberto em torno de
uma ilha de idéias bem organizadas. Ou, no máximo, de um arquipélago. Conhecer
não é percorrer terras planas e seguras. Conhecer é viajar por espaços
delimitados pela ignorância e pelo risco do retrocesso.
A aprendizagem é um
compromisso fundamentalmente emocional. O ensino é um compromisso com a
estimulação, com a provocação, com a orientação da aprendizagem. Ninguém pode
ensinar a quem não quer aprender, a quem não se encontra disponível para as
incertezas e em busca de conhecimento. Não é possível orientar quem está parado
e não pretende ir a lugar nenhum. Não é
possível orientar sem aprender a orientar com o orientando. Ensinar é
fundamentalmente aprender. Aprender a enfrentar o desafio da vinculação da
emoção com a razão no processo de conhecer e, além disso, enfrentar o desafio
de criar meios, mecanismos, recursos, instrumentos, estratégias e táticas que
mobilizem, no educando, sua emoção em paralelo com sua razão. Esquecer ou
reprimir a primeira em função da segunda, sob a alegação de que a emoção apenas
atrapalha o conhecimento científico, é retroceder mais de um século na psicologia da aprendizagem.
Aprender é uma aventura e
quem ensina não deve interromper a viagem do aprendiz com falsas bóias
salva-vidas. Aprender com o aprendiz é buscar, com ele, maneiras de reconstruir
o conhecimento em parceria, com base nas vivências e reflexões propiciadas
pelas dinâmicas de grupo, pelas circunstâncias geográficas e históricas vividas
no momento da aprendizagem, pelas várias estratégias de ensino-aprendizagem,
valorizando tanto a análise quanto a síntese, tanto a cultura escrita quanto a
expressão oral, a capacidade de interação e de estabelecer e cumprir
compromissos. Aprender um conteúdo é não apenas dominá-lo, mas envolver-se com
ele, habitá-lo, transformá-lo em algo renovado pela vida que nele depositamos.
Aprender a aprender é
realmente o mais importante na sociedade da informação. Estar em busca de,
estar ideologicamente inquieto, insatisfeito, é pré-condição de aprendizado
efetivo. Ter aprendido algo significativo implica em conseguir emocionar-se,
até certo ponto, toda vez que nos relacionamos novamente com tal conteúdo. Quem
aprendeu com a cabeça e com o coração sempre tem algo mais a dizer sobre o que
parece ter aprendido. Consegue reemocionar-se toda vez que se envolve com o
aprendido. Assim, torna-se mais persuasivo, convincente, quando busca partilhar
seu conhecimento com os demais. A representação do aprendido não é apenas uma
re-apresentação do conhecido, em forma racional, abstrata. É também uma
representificação, uma nova viagem, um novo mergulho.
Fonte: BOEIRA, Sérgio Luís. Aprender com a
cabeça e com o coração. [S.l.: s.n.].
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