Quem comanda a JBS e a responsabilidade da carne com larvas?
Com acionistas
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o banco
público Caixa Econômica Federal, a JBS teve receita bruta de R$ 78 bilhões em
2012.
Bem conectada, a empresa é uma das
mais influentes do país e investe pesado em campanhas de políticos.
Levantamento feito pelo jornal O Globo revela que, no primeiro mês da campanha
eleitoral de 2014, a JBS figurou como a principal doadora de dois
candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
A JBS,
considerada a maior empresa de processamento de carne do mundo, foi condenada
em segunda instância pelo Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região, no Mato
Grosso, em dois processos diferentes abertos pelo Ministério Público do
Trabalho (MPT) com base em infrações sistemáticas de leis trabalhistas. As
sentenças determinam o pagamento R$ 2,3 milhões em danos morais coletivos por
violações que vão desde o desrespeito a jornadas de trabalho e práticas que
configuram assédio, até situações que podem afetar a saúde dos trabalhadores.
Entre os problemas estão o fato de a empresa servir alimentos contaminados aos
empregados, incluindo carne com larvas de moscas varejeiras, e o vazamento de
gás amônia na unidade industrial de Juruena (MT).
Carne
com larvas
A contaminação da carne servida aos
empregados dentro da unidade industrial é destacada na sentença do relator do
processo, o desembargador Osmair Couto, que diz que os
descumprimentos da legislação ficaram “cabalmente
comprovados” e cita trecho de carta enviada pelo Serviço de Inspeção
Federal ao gerente industrial da JBS em Juruena para “melhor elucidar a gravidade dos fatos”. Diz o documento: “Os funcionários que foram jantar
encontraram larvas de varejeira na carne. Alguns desistiram de comer e outros
comeram por não ter opção”.
O professor da
Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) Marcos Rogério André, pós-doutor em
Medicina Veterinária e especialista em Parasitologia, explica que a presença de
larvas na carne representa um grave risco de contaminação.
“Do
ponto de vista de saúde pública isso é muito grave. Tem certas espécies de
moscas que depositam ovos e dos ovos saem as larvas, e tem as que depositam as
larvas diretamente. Seja como for, se tem larva, é porque a mosca sentou na
carne. E se ela sentou, pode ter deixado inúmeros agentes patogênicos”, explica, listando Áscaris lumbricóides (lombriga), bacilos de cólera, vírus
da poliomelite e salmonela como exemplos de contaminantes que os empregados
podem ter ingerido.
“A mosca tem avidez por
excrementos e matéria morta. Uma mosca que senta em uma quantidade grande de
fezes vai carregar nas patas todos os patógenos que estão lá. Além disso,
dependendo da espécie, muitas delas têm aparelho bucal lambedor. Ou seja, elas
vão nas fezes, sugam como se fosse um aspirador o que está lá e, quando chegam
na carne, regurgitam tudo. Todos os patógenos que estavam nas fezes passam para
o alimento”,
explica, ressaltando que os que ingeriram os alimentos contaminados podem
desenvolver doenças graves.
Vazamento
de gás amônia
Além de servir
carne com larvas a seus empregados, a JBS também é acusada de colocar a saúde
dos trabalhadores em risco por não tomar medidas básicas de monitoramento e
segurança em relação ao reservatório para refrigeração por gás amônia. Na outra sentença proferida em segunda
instância condenando a empresa, o juiz Juliano Girardello destaca
que “fiscais detectaram um forte cheiro
deste produto químico na sala de máquinas”, que “não há previsão do risco e nem exames médicos para monitoramento das
vias respiratórias dos trabalhadores do setor e demais agravos à saúde” e
que “não há como determinar como e quando
poderiam acontecer tragédias (explosões, incêndios, vazamentos de amônia etc.)
e acidentes de trabalho com resultado de morte ou invalidez permanente”.
Com base nessa e em outras infrações
graves, que incluem o registro de jornadas superiores a 20 horas, o Tribunal
Regional do Trabalho confirmou a condenação em primeira instância também
proferida pela juíza Mônica do Rêgo Barros, desta vez com base nas acusações
feitas pelo procurador José Pedro dos Reis. Além das duas condenações, a
empresa enfrenta mais uma ação decorrente de mais problemas constatados na
mesma unidade.
Fonte: Conjur
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